Minha família já foi imã de geladeira em muitos lares cristãos

Na manhã que escrevo esse texto, fui inspirado por um artigo que me trouxe muitas lembranças do envio de nossa família ao campo missionário. Antigamente era comum produzirmos imãs de geladeira com a foto de nossa família, para que nossos irmãos da Igreja e parentes estivessem sempre lembrando de nós em suas orações. Quem já fez isso?

Tínhamos a esperança e a fé de que a foto de nossa família diariamente vista e observada na geladeira promovesse o toque do Espirito Santo nos corações para orarem por nós, principalmente nos dias difíceis em nossos trabalhos.

Tenho convicção que muitas lutas vencidas, somente foram possíveis pela intercessão de pessoas que oravam especificamente por nós. Irmãos que nos conheciam pelo nome nos mantinham firmes segurando as cordas. Lembro claramente da irmã Zelinda, líder de missões e das mulheres de nossa Igreja, quando ela faleceu eu realmente senti que Deus havia levado uma das pessoas que lutavam conosco em intercessão no campo missionário.

Hoje meus filhos cresceram. A mais velha que chegou no campo com 3 anos está na faculdade e morando com a avó em outro estado. Aparentemente seguindo os passos da mãe, fazendo o mesmo curso para cuidar de pessoas. Que Deus continue a guiando pelos sonhos Dele. Não foi fácil essa separação, porém nosso coração se alegra em ver a menina, amadurecendo, sendo adulta, responsável e firme no Senhor Jesus Cristo.

Nosso menino que nasceu no campo já não parece mais uma criança, mas um homem, sim é um adolescente, mas grande, amoroso, educado, responsável, crescido, forte e na maioria do tempo estudando, e é claro, bastante tempo em seu quarto. Sei que Deus tem algo maravilhoso para ele e o sonhos de Deus também se cumprirão em sua vida.

Toda minha família foi e é mantida pelas orações de pessoas fieis ao Senhor que não esquecem de nós.

Como somos lembrados em nossos dias hoje?

Como nossos filhos são acolhidos ou trazidos a memória dos campos missionários hoje?

A Igreja e amigos cristãos tem orado por nós nominalmente?

Como minha proposta não é escrever um artigo, mas uma simples carta do coração de um esposo e pai missionário, então não me preocupo com citações e referências, permita-me me derramar de forma simples e objetiva.

Nesse momento não me sinto só e esquecido. Já me senti assim algumas vezes. Diante das tempestades no barco da vida, mesmo com a presença de Jesus Cristo, podemos nos sentir em perigo e à deriva, os discípulos provam isso. Nossa humanidade pecadora nos trai constantemente e não vemos tudo o que Deus é, e ficamos cegos ou incrédulos algumas vezes sobre a plena e constante presença Dele.

Missionário e pastores também podem ser em alguns momentos homens de pequena fé.

Por isso, quero deixar algumas dicas e sugestões valiosas para os missionários e para as Igrejas enviadoras não esquecerem a família missionária enviada aos campos:

Missionários:

  • Se a estratégia de hoje não é mais o imã de geladeira, então descubra quais são as outras maneiras de seus irmãos lembrarem de você e de sua família periodicamente;
  • Conheça pelo nome e tenha o contato de seus intercessores fieis em mãos, não deixe de compartilhar suas vitórias e as lutas;
  • Ore por todos que seguram as cordas de sua missão, não ore apenas pelo seu campo, mas também interceda por quem te mantém na obra: os intercessores, os pastores e líderes, sua agência e liderança, seus amigos missionários, seus irmãos e parentes e por sua Igreja enviadora;
  • Tenha amigos no ministério e um amigo mais chegado que o irmão. Sozinho no campo não dá. Amigos mesmo distantes, que mantém contato constante e on-line, hoje são presentes de Deus. Tenha para quem confessar suas tentações para não confessar pecados;
  • Valorize, seja grato e receba cada gesto de carinho e de lembrança sobre você e sua família como se fosse do próprio Senhor, seja um presente, uma ligação, um áudio, um vídeo ou até uma mensagem de texto, agradeça quem lembrar de você;
  • Mantenha sua saúde espiritual sempre em alerta e em desenvolvimento, sua intimidade com Deus em muitos momentos será a única prova e segurança de que você não está sozinho, mesmo que isso não seja a verdade;
  • Você e sua família são seu primeiro grande ministério, não negligencie a si mesmo e nem seu lar em nome das boas coisas para serem feitas na obra.
  • Tenha tempo de qualidade com Deus e também com seu cônjuge e filhos, os três desejam ter tempo exclusivo com você;
  • Seja mordomo fiel em suas finanças, administre muito bem tudo o que Deus permitir que chegue em suas mãos;
  • Desenvolva, estude e invista em você, em seu cônjuge e em seus filhos educacionalmente, cresça e se capacite para a obra e para a vida;
  • Cuide da saúde física de todos de seu lar para terem condições de se manterem ativos na missão por muitos anos;
  • Busque uma espiritualidade emocionalmente saudável, conhecendo bem a si mesmo, seu cônjuge e filhos, tendo equilíbrio de suas emoções e sentimentos, respeitando sua humanidade com descanso periódico e tendo qualidade de vida pessoal e familiar;

Igreja enviadora:

  • Tenham pessoas como responsáveis (ou uma equipe/ministério) para manter contato com seus missionários intencionalmente. Não foram pacotes enviados para outro lugar, mas sim pessoas comuns, que precisam continuar com os relacionamentos da Igreja local;
  • Não apenas dizem que vão orar, entrem em contato e orem, seja por mensagem, áudio, vídeo ou telefone. Seu contato pode ser a resposta de Deus em momentos específicos;
  • Visitem seu missionário ou família no campo, isso pode fazer toda diferença para a continuidade do trabalho e para a saúde integral deles;
  • Não pergunte primeiro como está o trabalho e o ministério no campo, busque de coração e intencionalmente saber primeiro como estão as pessoas no lar: o homem e a mulher, o marido e a esposa, o pai e a mãe e os filhos;
  • Enviem ou levem presentes que expressem a lembrança da Igreja e que podem simbolizar marcos positivos para toda vida na família missionária;
  • Continuem o pastoreio sobre a família missionária, eles continuam sendo ovelhas e precisaram de aconselhamento pastoral, por isso não terceirize esse privilégio e responsabilidade;
  • Envolva os profissionais da Igreja no cuidado de seus missionários: médicos, psicólogos, nutricionistas, educadores financeiros, profissionais da beleza e muitos outros, que podem usar seus talentos e conhecimentos para cuidarem dos missionários mesmo à distância com atendimentos, consultoria e direcionamentos especializados;
  • Mobilize os ministérios e ou grupos pequenos (células, PGs ou PGMs) para adotarem não somente financeiramente a família missionária, mas principalmente espiritualmente, emocionalmente e fisicamente. O acompanhamento periódico com ações de cuidado dos ministérios ou dos pequenos grupos são potencialmente muito efetivos e mais humanizados;
  • Tragam os missionários ou os acolham em tempos de férias e de descanso, não para prestarem somente relatórios e fazerem diversos exames médicos. Otimizem e planejem bem com tempo de qualidade de descanso efetivo e considerável;
  • Promova locais de descanso de qualidade e dentro das possibilidades com os recursos financeiros necessários;
  • Estejam bem presentes nos momentos de envio, mudanças ou transferências de campo. São momentos estressantes para toda a família missionária.
  • No retorno prematuro do campo (independente do motivo), ou no tempo da aposentadoria dos missionários, a Igreja tem um papel central e fundamental para acolher, cuidar e integrar a família missionária no corpo da Igreja e na sociedade.

Foi muito bom e especial lembrar de nossos imãs de geladeira, que entregamos para muitas irmãos e parentes 16 anos atrás. Lembrei que muitas dessas dicas e sugestões fizemos e recebemos, mas muitas outras nunca experimentamos, porém até aqui nos ajudou o Senhor e hoje posso ser canal para promover cuidado integral aos missionários.

Hoje temos outras estratégias que mantém amigos e intercessores fieis a Deus em acompanhamento e intercessão por nós. Temos as redes sociais, onde demonstramos que somos humanos e não super-homens, e também falamos de nosso ministério no Cuidado Integral dos Missionários.

Oro para que essas minhas lembranças e sugestões sejam uma luz para você que está no campo. Oro para que te encoraja em seu autocuidado e em sua auto responsabilidade diante dos desafios. E oro para você, membro da Igreja local que enviou missionários para os campos no Brasil e ou no mundo, a fim de que você seja efetivamente presente na vida de suas ovelhas e irmãos enviados na grande seara do Senhor.

Sandro Pereira – CIM Missões Nacionais


0 comentários

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *